A compreensão da graça de Deus é central para entendermos Seu relacionamento com a humanidade. Quando falamos sobre “graça”, estamos nos referindo ao favor imerecido que Deus concede aos seres humanos. Dentro da revelação bíblica, a graça de Deus pode ser classificada de duas formas: graça comum e graça especial. Embora ambos os tipos de graça tenham como fonte o amor de Deus, eles se manifestam de maneiras diferentes e com propósitos distintos. Neste artigo, exploraremos essas diferenças e o que cada uma delas significa.
A Graça Comum: O Favor de Deus a Todos
A graça comum é o favor de Deus que se estende a toda a humanidade, independentemente de sua condição espiritual. Esse conceito é baseado na ideia de que Deus, em Sua bondade, concede bênçãos tanto aos justos quanto aos injustos. Jesus ensina essa verdade no Sermão do Monte, dizendo: “porque Ele faz nascer o Seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos” (Mateus 5:45).
A graça comum se manifesta de diversas formas na vida diária:
1. Sustentação da vida: Deus preserva a ordem natural do mundo, concedendo as condições necessárias para a sobrevivência da humanidade, como o sol, a chuva, o ar e os alimentos. Isso acontece mesmo que muitos rejeitem a Deus ou vivam em desobediência.
2. Moralidade e consciência: Mesmo aqueles que não conhecem ou seguem a Deus são capazes de distinguir certo e errado em algum nível. Isso se deve à “lei de Deus” que foi escrita no coração de todos os homens (Romanos 2:14-15). Ainda que distorcida pelo pecado, a moralidade básica é um reflexo dessa graça que refreia o mal.
3. Dons e habilidades humanas: A criatividade, o talento artístico, a inteligência científica e as habilidades práticas são dons que Deus concede a toda a humanidade. Essa graça permite que sociedades floresçam, que a ciência avance e que a cultura se desenvolva, mesmo entre aqueles que não reconhecem Deus.
4. A paciência de Deus: A graça comum também inclui a paciência de Deus em não julgar imediatamente os pecadores. Em Romanos 2:4, Paulo escreve: “Ou desprezas a riqueza da Sua bondade, tolerância e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?”. A paciência divina é uma oportunidade dada a todos para que se arrependam.
A Limitação da Graça Comum
Embora a graça comum seja abundante e universal, ela não tem o poder de salvar. Essa graça não muda o coração das pessoas, nem as reconcilia com Deus. Ela é uma bênção temporária que beneficia todos, mas não remove o estado de inimizade entre Deus e os homens devido ao pecado. A graça comum impede que o mal se manifeste em sua plenitude, mas não transforma o pecador em alguém justo diante de Deus. Para isso, é necessária a graça especial.
A Graça Especial: O Favor Redentor de Deus
Diferente da graça comum, a graça especial é o favor imerecido que Deus concede apenas aos Seus eleitos para a salvação. Ela é chamada de “especial” porque não é dada a todos, mas somente àqueles que são escolhidos por Deus para serem redimidos e reconciliados com Ele.
A graça especial se manifesta de maneira única e poderosa na vida do pecador:
1. Regeneração: Um dos aspectos mais importantes da graça especial é que ela transforma o coração do pecador. Ezequiel 36:26-27 diz: “Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne”. Através da graça especial, Deus vivifica espiritualmente aqueles que estavam mortos em seus delitos e pecados (Efésios 2:1-5), capacitando-os a responder em fé.
2. Chamado eficaz: Enquanto a graça comum pode ser resistida, a graça especial é irresistível. Quando Deus chama alguém para a salvação por meio do evangelho, Ele faz isso de maneira eficaz, atraindo o pecador a Si. Jesus disse: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (João 6:37). O chamado de Deus através da graça especial é irresistível porque é feito pelo próprio Espírito Santo que convence o pecador de sua necessidade de Cristo.
3. Justificação: Pela graça especial, Deus declara o pecador justo aos Seus olhos, não por causa de qualquer mérito humano, mas pela fé em Jesus Cristo. Como Romanos 3:24 afirma, os crentes “são justificados gratuitamente, por Sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus”. A justificação é uma ação judicial de Deus, onde Ele perdoa os pecados do crente e lhe imputa a justiça de Cristo.
4. Santificação: A graça especial também capacita o crente a viver uma vida de santidade e obediência. Filipenses 2:13 diz: “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade”. A santificação é o processo contínuo de ser moldado à imagem de Cristo, o que só é possível pela graça especial de Deus operando no crente.
5. Glorificação: Finalmente, a graça especial culmina na glorificação, quando os crentes serão ressuscitados em corpos glorificados e habitarão eternamente com Deus. Romanos 8:30 declara: “E aos que justificou, a esses também glorificou”. Esta é a promessa final da graça especial, uma bênção eterna que os crentes aguardam.
A Exclusividade da Graça Especial
Enquanto a graça comum é estendida a todos os seres humanos, a graça especial é exclusiva aos eleitos de Deus. Isso não significa que Deus seja injusto, mas sim que, em Sua soberania, Ele escolhe manifestar Seu amor redentor de maneira particular. A Bíblia é clara ao afirmar que “a salvação pertence ao Senhor” (Jonas 2:9) e que é Ele quem tem o direito de mostrar misericórdia a quem Ele quiser (Romanos 9:15-16).
A Importância de Reconhecer as Duas Graças
Compreender a diferença entre graça comum e graça especial nos ajuda a apreciar a abrangência do amor e da justiça de Deus. A graça comum demonstra a bondade de Deus para com toda a criação, refreando o mal e proporcionando bênçãos temporais. No entanto, é a graça especial que efetivamente redime, transformando o coração e reconciliando pecadores com Deus.
Aqueles que recebem a graça especial experimentam uma transformação profunda e são trazidos para um relacionamento eterno com Deus por meio de Jesus Cristo. É essa graça que nos chama, justifica, santifica e, por fim, nos glorifica, garantindo a vida eterna.
Portanto, enquanto a graça comum é motivo de gratidão pelas bênçãos temporais que todos experimentam, a graça especial deve ser recebida com humildade e louvor, pois é ela que nos salva e nos garante um futuro glorioso na presença de Deus. Como Paulo escreveu em Efésios 2:8-9: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”.