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Expiação Limitada

 


Expiação Limitada ou Expiação Particular: A Obra Redentora de Cristo em Favor dos Seus

A doutrina da Expiação Limitada, também conhecida como Expiação Particular, é um dos temas mais centrais e discutidos na fé cristã. Esta doutrina afirma que a obra redentora de Jesus Cristo na cruz foi intencionada exclusivamente para os eleitos, ou seja, para aqueles que foram predestinados por Deus para a salvação. Em outras palavras, Cristo morreu de forma eficaz para salvar plenamente aqueles que o Pai lhe deu, e não por toda a humanidade sem distinção.

A Expiação Limitada faz parte dos “Cinco Pontos do Calvinismo”, resumidos pelo acrônimo TULIP, onde cada letra representa uma doutrina importante. Neste artigo, exploraremos o significado e a fundamentação bíblica da Expiação Particular, o entendimento de renomados teólogos e autores calvinistas sobre o tema e como essa doutrina afeta a vida cristã.

O Que É a Expiação Limitada?

Expiação Limitada significa que Jesus Cristo morreu para redimir especificamente os eleitos de Deus. Ele ofereceu Seu sacrifício para salvar definitivamente aqueles que o Pai escolheu antes da fundação do mundo. Essa doutrina difere da ideia de Expiação Universal, que ensina que Cristo morreu por todos os indivíduos da mesma forma, mas deixa a eficácia da redenção dependente da resposta humana. A Expiação Limitada, ao contrário, sustenta que o sacrifício de Cristo realmente salva aqueles por quem Ele morreu, sem falhas, pois a eficácia da expiação não depende da vontade humana, mas do propósito soberano de Deus.

John Owen, um importante teólogo puritano, apresentou uma das defesas mais influentes dessa doutrina. Em seu livro A Morte da Morte na Morte de Cristo, Owen argumenta que “a intenção de Deus Pai, a obra de Cristo e a aplicação do Espírito Santo estão em harmonia. Aqueles por quem Cristo morreu, o Espírito aplica a salvação” (Owen, A Morte da Morte na Morte de Cristo, p. 61). Assim, Cristo morreu para garantir que os eleitos fossem salvos, e o Espírito Santo aplica eficazmente essa salvação a eles.

Base Bíblica para a Expiação Limitada

A Expiação Limitada não é apenas uma construção teológica; ela é baseada em uma série de passagens bíblicas que apontam para a intenção específica e eficaz do sacrifício de Cristo. Vejamos algumas dessas passagens e o que elas nos ensinam sobre a natureza da expiação.

1. João 10:14-15: Nesta passagem, Jesus diz: “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas.” Aqui, Jesus não diz que Ele dá Sua vida por todas as pessoas sem distinção, mas sim por Suas ovelhas — um grupo específico e conhecido por Ele. A metáfora do pastor e das ovelhas indica uma relação de intimidade e eleição.

2. Mateus 1:21: O anjo diz a José que o filho que Maria dará à luz “salvará o seu povo dos pecados deles”. A expressão “seu povo” se refere especificamente aos eleitos de Deus, aqueles que Cristo veio salvar de forma definitiva. Não há menção de que Cristo veio salvar todos, mas sim “o seu povo”.

3. Efésios 5:25: Em seu ensino sobre o casamento, Paulo diz que “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela”. A expiação é feita em benefício da igreja — o corpo dos eleitos. Paulo faz uma distinção clara entre o mundo e a igreja, mostrando que o sacrifício de Cristo foi direcionado para aqueles que compõem o povo de Deus.

4. João 17:9: Na oração sacerdotal, Jesus ora: “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.” Aqui, Jesus faz uma intercessão específica pelos que o Pai lhe deu. Sua intercessão e sacrifício são intencionais e direcionados para os eleitos.

A teologia reformada vê nesses textos a evidência de que Cristo veio para redimir de forma eficaz os eleitos de Deus, garantindo a salvação deles sem a possibilidade de falha. Como disse Charles Spurgeon, pregador batista reformado: “Creio que a doutrina da expiação particular é a própria substância do evangelho. É a doutrina que Cristo morreu pelos Seus, pelo Seu povo, por Suas ovelhas, por Seus eleitos” (Spurgeon, Sermons on Sovereignty).

A Obra Completa de Cristo na Expiação

Na doutrina da Expiação Limitada, o sacrifício de Cristo não é visto como uma oferta potencial de salvação, mas como uma obra completa que realmente salva os eleitos. A expiação foi planejada, executada e aplicada de forma a assegurar que aqueles por quem Cristo morreu sejam, de fato, salvos. Isso é parte do que chamamos de redenção eficaz.

Em Romanos 8:30, Paulo descreve a “cadeia dourada” da salvação: “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.” Essa passagem ensina que o propósito de Deus na salvação é cumprido de maneira eficaz e completa. Se Cristo morreu por alguém, essa pessoa certamente será salva.

A Expiação Limitada, portanto, assegura aos crentes a certeza da salvação, pois o sacrifício de Cristo não é apenas um convite à redenção, mas uma obra que garante a salvação dos eleitos. Louis Berkhof, teólogo reformado, reforça essa ideia em sua Teologia Sistemática: “Cristo assegurou definitivamente a salvação de Seus eleitos, e esta salvação não pode ser anulada, pois ela está enraizada na eleição soberana de Deus e no sacrifício eficaz de Cristo” (Berkhof, Teologia Sistemática, p. 388).

Expiação Limitada e a Vida Cristã

Compreender a Expiação Limitada traz implicações práticas e espirituais significativas para a vida do cristão. Esse ensinamento nos chama a viver com humildade, gratidão e segurança. Abaixo, exploramos algumas das principais implicações.

1. Humildade e Gratidão: Saber que fomos escolhidos por Deus para sermos recipientes de Seu amor redentor nos enche de humildade e gratidão. Como não houve mérito algum de nossa parte, nossa resposta deve ser de adoração e reconhecimento pela graça de Deus. O puritano Thomas Watson declarou: “Cristo morreu de forma voluntária e nos amou antes que soubéssemos o que era amor. Como isso deveria nos encher de humildade e amor por Ele!” (Watson, Body of Divinity).

2. Segurança e Confiança: A Expiação Limitada nos dá a certeza de que nossa salvação está segura em Cristo. Uma vez que Cristo morreu especificamente por nós, os eleitos, e Sua obra foi completa, podemos confiar que nada poderá nos separar do amor de Deus. Como Paulo declara em Romanos 8:38-39, “nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem coisas presentes, nem coisas futuras […] nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus”.

3. Motivação para o Evangelismo: Embora Cristo tenha morrido pelos eleitos, não sabemos quem são esses eleitos. Portanto, somos chamados a pregar o evangelho a todos, sabendo que Deus usará a pregação para chamar os Seus. Como disse Charles Spurgeon: “Devemos pregar o evangelho a todos, pois o evangelho é o meio pelo qual Deus chama os Seus eleitos ao arrependimento e à fé” (Spurgeon, Sermons on Sovereignty).

A Beleza da Expiação Particular

A Expiação Limitada é uma doutrina que nos leva a reconhecer a profundidade do amor de Cristo e a eficácia de Sua obra redentora. Jesus não morreu para tornar a salvação apenas possível, mas para garantir que aqueles que o Pai escolheu antes da fundação do mundo sejam salvos. Esse sacrifício específico e eficaz assegura que nossa salvação está firmemente estabelecida na obra de Cristo e não em nossas próprias forças.

Para os cristãos, essa doutrina traz grande conforto e certeza. Sabemos que, se Cristo morreu por nós, nossa salvação é completa e segura. A Expiação Limitada nos lembra do amor imenso de Deus, nos convida a viver em gratidão e nos motiva a proclamar o evangelho com esperança, pois sabemos que o Senhor usará Sua palavra para chamar o Seu povo para Si.

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